quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Celebrando meus 20 anos de Bahia

Foi em janeiro de 1989 que vim para a Cidade da Bahia, recém-formado em Medicina. Inicialmente, a intenção era passar apenas algumas semanas. As semanas, não sei como, viraram meses... Quando me dei conta, estava apaixonado, completamente apaixonado pela Bahia. E não conseguia mais me imaginar vivendo em qualquer outro lugar do planeta.

Bahia, para mim, é um pedaço de África. Uma semente de África semeada no solo da América, onde se mesclou com índios e europeus. A Bahia traz todas essas ricas influências, mas ainda assim, para mim, é África!

Só tive o privilégio de estar no continente africano uma vez, em 1998. Passei três semanas entre a África do Sul, o Botsuana e o Zimbábue. Experiência profunda, inesquecível. Foi lá que escrevi esse poema... não, na realidade, ele brotou em minha alma. É com emoção que o compartilho, em comemoração aos meus 20 anos de Bahia.


FILHO PRÓDIGO

Mãe África,
humildemente venho ao teu encontro
desejoso, ansioso, sequioso…
será que ainda há lugar para mim em teu colo ?

Mãe África,
cresci longe de teu olhar protetor,
em outros jardins brinquei,
dormi escutando histórias outras
e por isto,
pouco sei de ti
e tu pouco conheces de mim…
será que ainda terás paciência para me ensinar ?

Mãe África,
pelo mundo o meu caminho busquei,
por terras longínquas viajei,
outros povos, culturas e línguas conheci,
só para descobrir
que eles também nasceram em teu berço
e são teus filhos
e meus irmãos…
será que ainda me aceitarás de volta ao nosso lar ?

Mãe África,
talvez não te recordes de mim,
talvez olhes para mim e não me reconheças,
talvez eu pareça muito diferente dos teus filhos que contigo vivem,
mas
minhas raízes provém de teu sagrado útero,
meu coração pulsa no mesmo ritmo de teus tambores,
minhas noites foram embaladas em teu berço carinhoso
e meus dias, preenchidos por tua alegre presença,
minha sede foi saciada por tuas graciosas fontes
e minha fome, aplacada por tua generosidade,
meus primeiros passos foram engatinhados perante ti
e as primeiras lágrimas, derramadas em teu solo…

Mãe África,
sei que
estive longe
quando mais precisaste de mim,
me fingi de surdo
quando deixavas escapar gemidos de dor,
mantive-me alienado
quando a confusão imperava em teu lar,
minha acomodação
privou-me de estar lado a lado com meus irmãos…
será que ainda me acolherás com teu abraço ?

Mãe África,
um de teus filhos pródigos
está de volta…
Por favor,
mira-o com teu olhar indulgente e compreensivo
dá-lhe tua mão quente e segura
envolve-o em teu abraço macio e confortador
embala-o em teu colo aconchegante
e… perdoa-o,
com teu coração de mãe amorosa…

Mãe África,
o teu perdão suplico
para mim
e para aqueles de teus outros filhos que,
não tendo herdado tuas virtudes,
esquecidos de que sua verdadeira terra natal és tu,
iludidos pela ignorância infantil
e inflamados pela arrogância adolescente,
voltaram para casa
não para te agradecer e glorificar,
mas te desrespeitando, pisoteando,
machucando teus filhos e filhas,
roubando tuas riquezas,
destruindo teus jardins,
explorando tua generosidade…

Mãe África,
perdoa-me.

Mãe África,
perdoa a todos nós.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

INOVE em 2009...

Para inovar em dois mil e nove, convidei MARIANA MACHADO ARAGÃO, estudante de Medicina da Bahiana, a enriquecer e embelezar este blog com dois de seus muitos encantadores poemas... Para conhecer outros textos dela, visite o seu blog: www.fotolog.terra.com.br/zabuletando

Sim, é a mesma Mariana a quem me referi em minha postagem anterior! Espero que vocês sejam tocados e inspirados por essas palavras, assim como eu o fui...

DEZ VANTAGENS

Mariana Machado Aragão

Se não tenho a vantagem de tuas pernas,
É porque já aprendi a voar.
Se não tenho a vantagem de tuas palavras,
É porque aprendi a falar com os olhos.
Se não enxergo o que tu vês,
É porque aprendi a ver de outro jeito.
Se não escuto o mesmo que você,
É porque agora escuto a mim mesmo.
Não carrego em mim teus prêmios natos,
Pois aprendi a construir em mim outras vitórias.

* * * * * * * * * *

MINHA PRECIOSA IDADE
Mariana Machado Aragão

Trago em mim a pele enrugada.
São as dobras de um passado repleto de lembranças.
As lembranças que me ensinaram a ensinar.
Trago em mim o olhar de um monge,
E seus pensamentos profundos.
Trago em mim o gosto das estradas que percorri.
Sou forte, sou muitos, sou tudo o que vivi,
E o que faltou viver.
Trago em mim uma idade que não faz sentido,
Pois, trago também o calor da mocidade.
Trago canções antigas e as novas.
Este verso em decassílabo.
Sou barroco e arcadismo,
Sou romantismo, realismo...
Sou Semana de Arte Moderna.
Trago em mim as aflições
Dos amores perdidos que deixei pelo caminho.
Mais ainda, daqueles que ainda não encontrei.
Trago as manchas que tentei me livrar,
Espalhadas pelo corpo e pelo olhar,
E aquelas que fiz questão de ter.
Trago minhas vitórias e derrotas,
Amarrotadas na pele encardida.
Estas me doem até hoje, embora ainda não saiba perder.
Trago todas as contradições,
Pois aprendi que é mais fácil morrer do que viver.
Mas, trago em mim uma mania,
Não aquelas de que reclamam tanto,
E que todos as terão,
E sim, uma mania enorme de escolher o que é difícil,
E neste caso,
Trago em mim esta mania absurda de viver!


Obrigado, Mariana... muito obrigado!