Recentemente foi inaugurada a ponte mais extensa do mundo,
na China, tendo sido destaque na mídia internacional. Entretanto, ela é pequena,
se comparada com a ponte estabelecida por estudantes da Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia.
Pontes servem para conectar, aproximar e facilitar o ir e
vir, e as trocas. Nem todas as pontes são materiais. Há pontes invisíveis muito
importantes conectando pessoas, grupos e comunidades.
A maravilha da engenharia chinesa resultou da combinação de
concreto e aço, tendo o desafio de atravessar 42 quilômetros sobre o mar da
baía de Jiazhou. A conquista dos jovens baianos interligou Santo Antônio de Jesus a Teerã, resultando
da combinação de cidadania planetária e solidariedade humana, tendo o desafio
(muito maior!) de superar os abismos da indiferença e o lodo do egoísmo.
Nem os onze mil quilômetros de distância, nem as diferenças
de nacionalidade, idioma, cultura e religião foram capazes de impedir que
corações e mentes se conectassem em torno da defesa do direito humano à educação
e em favor da tolerância religiosa.
Tudo começou porque um grupo – que vinha estudando temas
como ética e humanização, e refletindo sobre a vida de líderes servidores como
Gandhi, Luther King, Mandela, Ruhiyyih Rabbani, Betinho, Chico Mendes, Irmã
Dulce, Rigoberta Menchú e Helen Keller – decidiu realizar um “ato de serviço” –
uma ação social que pudesse contribuir para a melhora do mundo.
Várias causas e possibilidades foram levantadas, mas houve
uma, em especial, que os sensibilizou: milhares de jovens iranianos cujo acesso
à universidade é proibido pelo governo daquele país. Creio que se deram conta
de que o anseio de aprender, prosseguir com os estudos, conquistar um diploma e
uma profissão é um sonho universal e um direito de todo ser humano. Ser
impedido de realizar o seu sonho por causa de sua religião, por participar do
movimento estudantil, por pertencer a uma minoria... é uma forma de violência e
opressão inaceitável – em lugar nenhum do planeta. Dentre os mais violentamente
perseguidos pelo governo iraniano encontram-se os 300.000 seguidores da Fé Bahá’í.
Diante da negação sistemática de matrícula e da expulsão de alunos bahá’ís,
essa pacífica comunidade religiosa organizou programas educativas para seus
filhos, que culminavam no Instituto Bahá’í de Ensino Superior (IBES) – uma rede
clandestina de professores voluntários, apostilas fotocopiadas e distribuídas
secretamente, aulas presenciais em sótãos de residências particulares e estudo
pela internet. A reação das autoridades é estarrecedora: professoras de aulas
para crianças foram enforcadas, jovens que educavam adolescentes foram presos,
e docentes do IBES receberam longas penas de aprisionamento.
No conforto e segurança de nossa sala de aula na UFRB, jovens
que muito batalharam para realizar seu sonho de cursar a universidade iam
conhecendo a história de outros membros de sua geração, arbitrariamente
impedidos de alcançar essa conquista. Estabeleceu-se então uma ponte – a da
empatia, do compromisso com os direitos humanos e da luta por aquilo que é
justo, verdadeiro e bom.
Em seguida, os estudantes da UFRB buscaram se inteirar
melhor sobre o assunto e começaram a organizar uma atividade para informar e
mobilizar professores, técnicos e seus colegas em relação a esse drama que está
ocorrendo agora mesmo, no presente momento. Decidiram engajar-se em uma
campanha internacional que vem ocorrendo em diversas universidades e pela
internet: “Can you solve this?” (Você pode resolver isso?).
Assim, no dia 14 de fevereiro de 2012, o Centro de Ciências
da Saúde da UFRB conectou-se com o povo do Irã, com os jovens bahá’ís e os demais estudantes cujo acesso à
universidade é impedido pelas autoridades da República Islâmica. Uma gigantesca
ponte constituída pelo simples gesto de dizer “sim, eu me importo!”. Como ensinou
Martin Luther King, “a injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à
justiça em todo lugar”.
Naquela manhã, as pessoas chegavam para mais um dia de
estudo e trabalho, e se deparavam com banners, cartazes e a exibição contínua
de vídeos e documentários sobre uma situação que a maioria desconhecia até
então. Durante todo o dia, os estudantes organizadores distribuíram panfletos e
deram informações. Os transeuntes que dispunham de alguns minutos eram
convidados a acessar ali mesmo o site da campanha e assinar uma petição on line dirigida a autoridades brasileiras
e da ONU em favor da garantia do direito à educação – sem discriminações ou
perseguições – pelo governo do Irã.
Mais de 200 pessoas assinaram a petição nos computadores
disponibilizados. Cerca de 400 integrantes da comunidade acadêmica receberam o
panfleto. Todas se sensibilizaram com a situação dos jovens ilegalmente
privados do acesso ao ensino superior.
Descobrimos que 11.000 quilômetros podem ser “logo ali”
quando nos reconhecemos como cidadãos planetários e co-responsáveis pelo
bem-estar de todos. Não há obra de engenharia que se compare com essa conquista
da consciência!
5 comentários:
Gostei ^^ quando olhei a imagem, imaginei Um ponte para o céu onde caminharemos , memso por ser distante encontrariamos o caminho
Maravilhoso texto, e maravilhosa a iniciativa desses estudantes baianos em defender seus colegas no Irã - que nada mais são que pessoas que buscam crescer em intelecto e em humanidade para melhor servir aos seus irmãos e irmãs, de todos os credos e convicções. Parabéns a todos vocês por essa prova de amor ao outro - mesmo que esse outro viva a centenas de milhares de quilômetros de distância.
Bom seria se pudéssemos replicar essa manifestação em todas as universidades do país!!!
Fico feliz e orgulhosa em ver jovens mobilizando-se por uma causa tao nobre e justa! Parabens aos alunos e parabens a voce Feizi, pelo belo texto.
Maravilhosa inciativa! Temos que agora construir a mesma ponte agora na UFBA! É isso que nos impulsiona e incentiva a lembrarmos que somos todos frutos de uma mesma arvore.
Parabéns!
Lívia
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